Nos últimos anos, surgiram as Treasury Companies; companhias que substituem o caixa tradicional em dólar por Bitcoin, e utilizam instrumentos financeiros sofisticados para ampliar essa posição.
O movimento, iniciado pela (agora Strategy) em 2020, transformou a maneira como empresas enxergam a gestão de tesouraria, combinando escassez digital com alavancagem de capital.
Michael Saylor, fundador da MicroStrategy, foi o primeiro a estruturar essa estratégia em escala. Diante da expansão monetária e da erosão do poder de compra do dólar durante a pandemia, ele decidiu converter as reservas de caixa da empresa em .
E, após isso, resolveu usar dívida e ações como colateral para financiar novas compras, criando um modelo híbrido entre gestão corporativa e hedge macroeconômico.
A estratégia segue uma lógica de três etapas.
Na primeira, a empresa converte seu caixa em Bitcoin; um movimento conservador, porém disruptivo, que troca liquidez por escassez.
Na segunda, usa o próprio BTC e suas ações como garantia de crédito, emitindo bonds conversíveis e outros instrumentos de dívida.
Na terceira, reinveste os recursos obtidos em mais Bitcoin, ampliando o colateral e reiniciando o ciclo.
Algumas empresas param na fase inicial. Outras, como a Strategy, foram até o limite; transformando o acúmulo de Bitcoin em seu core business.
Para avaliar o desempenho desse modelo, o mercado utiliza métricas como o BTC por ação, o BTC Yield e o mNAV (Multiple of Net Asset Value), que indica o prêmio que os investidores estão dispostos a pagar sobre o valor líquido dos bitcoins no balanço.
Enquanto o mNAV permanecer elevado, a empresa consegue captar capital barato e sustentar a expansão. Se o prêmio desaparecer, a estrutura fica exposta.
O problema surge quando o custo de capital se aproxima da rentabilidade esperada do Bitcoin.
Em 2020, a Strategy emitia dívida a 0% ao ano; em 2025, o custo subiu para 8–10%.
Com essa taxa, a margem entre alavancagem e retorno se estreita perigosamente.
A sustentabilidade passa a depender da trajetória de preço do BTC; se o ativo valorizar acima do custo da dívida, o modelo gera retornos exponenciais; se estagnar, o sistema pode implodir.
As Bitcoin Treasury Companies representam, ao mesmo tempo, inovação e risco.
São como reatores financeiros alimentados pela escassez digital: quando o combustível é abundante, a valorização se multiplica; mas qualquer falha no fluxo pode levar à sobrecarga.
O sucesso de Michael Saylor dependerá menos da sorte e mais da precisão em navegar os ciclos do Bitcoin; e de saber quando desacelerar antes que o próprio modelo se torne insustentável.
