O mercado cripto se preparava para um final de ano empolgante. Historicamente, os meses de outubro, novembro e dezembro costumam marcar o período mais positivo para o — a ponto de o mês de outubro ter ganhado o apelido de “Uptober”, por conta de seu histórico de fortes valorizações. Em média, outubro traz cerca de 20% de alta, e novembro costuma ser ainda melhor.
Tudo indicava que 2025 seguiria o mesmo roteiro, depois que o atingiu sua máxima histórica nos primeiros dias de outubro. A euforia, no entanto, durou pouco. O preço recuou para a faixa entre US$ 105.000 e US$ 110.000, num movimento de consolidação com volatilidade surpreendentemente baixa.
Do lado técnico, a forte concentração de ordens de venda próxima ao recorde interrompeu o avanço imediato. Ao mesmo tempo, o contexto macroeconômico se mostrou menos favorável: tensões comerciais, fortalecimento do dólar e incertezas sobre a liquidez global voltaram ao radar dos investidores.
À medida que entramos em novembro, o clima é de cautela generalizada. O Bitcoin ampliou as perdas e é negociado atualmente na região de US$ 100.000 a US$ 102.000, após ter tocado brevemente os US$ 98.000 — nível não visto havia cinco meses. O sentimento entre investidores é predominantemente negativo, e cresce o debate sobre a possibilidade de estarmos às portas de um novo bear market, expressão usada para descrever períodos prolongados de queda. O cenário atual guarda semelhanças com a última vez em que outubro e novembro foram meses negativos para o Bitcoin: em 2022, o mercado vivia o impacto da quebra da FTX, a confiança desabava e o BTC chegava a US$ 15.000.
O esfriamento recente pode ser explicado por uma combinação de fatores. O Federal Reserve mantém uma postura cautelosa e indica que a redução das taxas de juros pode ser mais lenta do que o esperado, já que a inflação ainda não está totalmente controlada. Isso pressiona ativos de risco como o Bitcoin e reduz o fluxo de capital para o mercado cripto. Ao mesmo tempo, a queda de liquidez global leva investidores a priorizar o dólar e títulos do Tesouro, enquanto tensões geopolíticas e comerciais reforçam a busca por segurança.
Esse conjunto de fatores cria um ambiente em que o apetite por risco é mínimo e os movimentos de realização de lucro se tornam mais frequentes. Ainda assim, não há sinais claros de colapso estrutural no mercado cripto. O movimento atual parece mais uma correção natural após meses de valorização do que o início de uma tendência de baixa prolongada.
Historicamente, fases de consolidação após recordes costumam abrir janelas de oportunidade para quem olha o mercado com perspectiva de longo prazo. O Bitcoin segue com fundamentos sólidos: escassez programada, adoção institucional crescente e presença cada vez mais forte como ativo alternativo em portfólios globais.
O movimento recente reforça que, mesmo em um ciclo de alta, o Bitcoin não está imune às condições macroeconômicas globais. O aperto monetário prolongado, a queda de liquidez e a aversão ao risco criam um ambiente em que ativos voláteis tendem a sofrer.
Ainda que os fundamentos de longo prazo permaneçam intactos, o curto prazo deve seguir desafiador. O mercado parece buscar um novo ponto de equilíbrio — e, até que o cenário global se torne mais previsível, é provável que a cautela continue ditando o ritmo.
Guilherme Prado é country manager da Bitget no Brasil
